22 de janeiro de 2011

O samba dengoso

“O samba carioca tem uma forma especial, uma malícia de ritmo que obedece a um sincopado que nada tem a ver com o remelexo do samba baiano”.

O remelexo, a que Caymmi se refere, nada mais é do que o "dengo"da Bahia...explicado por ele mesmo:

“Não sei de palavra tão bonita quanto ‘dengo’. Dengo... Denguice... dengosa... Palavras que dizem muita coisa... O sol do Nordeste, aquele calor das tardes pedindo rede e água de coco, pedindo cafuné e dando ao corpo certa moleza gostosa, produz o dengo, que por vezes está apenas no quebranto de um olhar, às vezes na modulação da voz terna, de súbito no gesto, como um convite. Não sei definir certas mulheres senão pelo dengo que possuem”.

Com seu jeito baiano de ser, Caymmi escrevia seus sambas...

O dengo que a nega tem
Dorival Caymmi

É dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também

Quando se diz que no falar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no andar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sorrir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sambar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
É dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também

Quando se diz que no bulir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no cantar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no olhar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem

É no mexido, é no descanso, é no balanço
É no jeitinho requebrado que essa nega tem
Que todo mundo fica enfeitiçado
E atrás do dengo dessa nega todo mundo vem

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