23 de março de 2011

Quelé, sabedoria e humildade

Sabedoria para mim vem recheada de humildade. Senão, não é sabedoria. O que me encanta em Clementina é isso.

Nascida na comunidade do Carambita, bairro da periferia de Valença, no sul do Rio de Janeiro em 1901, filha de uma mãe descendente direta de escravos, aprendeu logo cedo a cantar corimas, jongos, lundus e modas. Era comum o canto durante o trabalho diário das mulheres negras.

E como toda mulher negra desta época, Clementina era pobre e precisava trabalhar para sobreviver. Foi empregada doméstica, lavadeira e passadeira durante 20 anos.

"Todo mundo na casa onde eu trabalhava, gostava de me ouvir cantar, menos a patroa. Dizia que eu tinha uma voz irritante, parecendo miado de gato" Sim, a voz de Clementina era anasalada, rouca e...única. Disse Paulinho da Viola "Tudo o que se fala de Clementina de Jesus não tem a dimensão da presença dela. Ouvi-la cantando, sentada, com o seu vestido de renda, era algo absolutamente fascinante, difícil de transmitir, de traduzir em palavras."

Quem "descobriu" Clementina de Jesus foi o compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho em 1963, que a levou para participar do show "Rosa de Ouro". Já com 62 anos, descobriu uma nova forma de viver, sem deixar a ternura e a simplicidade de lado. Uma pessoa capaz de parar um programa de televisão ao vivo para conversar com a moça do cafezinho.

Clementina de Jesus tem muito o que ensinar. E vem nos dizer que fazer samba não é apenas cantar, tornar-se famoso, virar o top nas paradas de sucesso. Mas é acima de tudo, ser brasileiro e ter a sabedoria da humildade.

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